segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como é bom mudar mas continuar sendo a mesma!

A Primavera nas regiões temperadas do Planeta é a coisa mais louca desse mundo! Eu sei... desculpem, estou escrevendo de novo sobre fenômenos meteorológicos, mas acho que estou aproveitando esse período atípico que me encontro (o desemprego) para apreciar as pequenas coisas da vida, aquelas coisas que estão lá, todos os dias, se repetindo, e por se repetirem tando, agente nem repara mais nelas.


Um grande amigo, também brasileiro empolgado com as estações do ano bem definidas da Europa, descreveu a Primavera assim:



A Primavera parece aquelas cenas de desenho animado onde a bruxa malvada sai de cena e um arco-íris vai passando pelo lugar, vem devagar. Por onde ele passa, todas a folhas, flores e árvores secas e mortas pela bruxa vão se abrindo e colorindo tudo. Os passarinhos voltam a cantar e todos os animaizinhos saem da toca, felizes da vida.



É assim mesmo! Sem exagero nenhum! É assim que agente se sente mesmo, como se tivesse sido libertado, após 6 meses de frio e escuridão.



Só para se ter uma ideia de como o negócio é rápido mesmo, no dia 12 de fevereiro, quando sai de casa embaixo de uma névoa cinzenta, com temperatura de 3C, estava escuro. Nesse dia a sol nasceu as 08:02 e se pôs as 17:48. (Hehehe, na Holanda tudo é registrado e quase tudo se acha na internet! Um dia escrevo sobre essa mania de previsão dos holandeses!). Nessa mesma tabela na internet, vejo que o sol hoje nasceu às 06:45 e vai se por às 20:42. Em um pouco mais de um mês, ganhamos 5 horas a mais de luz!



Com essa mudança dramática é claro que a natureza se comporta diferente; tudo, mas tudo mesmo floresce! Esse fenômeno não se vê apenas em plantas e animais, mas também no bicho homem. É praticamente impossível andar pela rua sem receber um olhar ou até mesmo receber uma cantada! Um dia desses recebi três, umas atras da outra. Um rapaz jovem, bonito e desconhecido, passou de bicicleta e falou com um sorrisão no rosto: “Oi linda!” . Eu te juro que nunca tinha visto este cara antes, e que se chamar de lindo e linda aqui não é o costume. Então o cara estava de xaveco mesmo.



Mas essa euforia toda também tem um efeito estranho em algumas pessoas; a depressão. Sim, acreditem ou não, mas na Europa é comum ter um surto depressivo na Primavera e no Outono. Dizem que para alguma pessoas, essa mudança radical na natureza desperta um mal sentimento, o sentimento de: Tudo muda, menos eu! Para muitos, essa estação do ano vem como um tapa na cara, como se recebessem uma bronca às 06:45 da manhã. Uma voz grita em seus ouvidos: Mais um ano se passou e mais uma vez você não mudou.



Graças a Deus não sou uma dessas pessoas, sou uma das pessoas que se empolga e se alegra com as mudanças. Adoro mudança! Adoro mudar móveis de lugar, arrumar a bolsa e o guarda-roupa, jogar tudo que é velho fora e comprar coisas novas. Adoro, adoro mudar! Mas também sei apreciar essas mudanças rotineiras, essas mudanças que ocorrem todos os dias, meses e ano. Como a estações do ano, que desde que o mundo é mundo, traz mudanças que são sempre as mesmas mudanças.



Como é bom mudar mas continuar sendo a mesma!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Queimando barcos

Uma das maiores dificuldades na hora de aprender uma língua estrangeira é usar as expressões idiomáticas corretamente. Essas expressões, ao serem traduzidas literalmente, não fazem o menor sentido. Como não crescemos usando-as, temos que usar um artifício para entende-las: entender as origens desta expressão.


Os holandeses são mestres em usar expressões. É algo muito importante na língua deles. Quase todas elas têm um fundo histórico. Existe até um site explicando as raízes de cada uma.


Com a frase “Quero manteiga junto com o peixe” eles te informam que o pagamento tem que ser feito avista. Na época do escambo, quem quisesse uma mercadoria (peixe) deveria oferecer outra no ato (manteiga). Naquela época ainda não existia o famoso pré-datado ou a velha cadernetinha.


Ao mandar “colocar água no vinho” os holandeses não estão sugerindo que o dono do restaurante sacaneie os seus clientes, mas estão dizendo que em situações como esta em que você se encontra, o melhor é ponderar e ceder um pouco.


Mas a minha expressão favorita nesta língua complicadíssima é “queime o barco atrás de você”. Com essa expressão piromaníaca os holandeses te aconselham a olhar para a frente e deixar o passado para atrás. O mais fascinante desta frase é a sua origem. Diz a lenda que quando os Romanos invadiram o Reino Unido, ao chegar na praia tiveram que queimar os próprios barcos, impedindo assim qualquer possibilidade de arrependimento. Obrigando-os a seguir em frente.


Adoro um draminha, então adotei essa frase como a minha expressão idiomática favorita.


Às vezes fico pensando nesse episódio da história e tento me colocar no lugar dos soldados Romanos enviados para essa missão.


Ao atravessar o Canal da Mancha, em seus barcos de madeira, esses soldados detem ter percebido que essa missão era muito difícil e que exigiria uma estratégia diferente da usada para dominar os países da Europa Continental. O Reino Unido é uma ilha, e toda ilha é uma fortaleza natural. Os indivíduos que pretendem invadi-la, devem levar tudo consigo: comida, água, armas, munição, remédio, conhecimento e coragem. Esses recursos muito dificilmente poderiam ser levados a eles. O mar é um obstáculo natural é imutável. Os recursos se acabando, estava acabado.


Na minha imaginação, os soldados se reuniram na proa do barco, a luz das estrelas e decidiram em unanimidade que deveriam queimar todos os barcos assim que chegassem à costa da Inglaterra. Decidiram que para vencer, tudo o que poderiam levar era o que pederiam carregar: a coragem e a sabedoria que alcançaram até então.


E foi assim, morrendo de medo, que os Romanos chegaram a praia, pegaram as tochas e tacaram fogo nos próprios barcos. O medo e a excitação devem ter tomado naquela hora: o medo de se arrependerem e a excitação de construírem uma vida só deles. Uma vida baseada em sabedoria, princípios e coragem, muita coragem!


No final da tarde, com o sol já na linha do horizonte, este homens devem ter se desesperado. Entre a fumaça e a neblina tão tipica da Inglaterra, via-se homens sujos e esfarrapados, remexendo nas cinzas ainda quentes. Algúns devem ter se atirado ao mar, no desespero de voltar ao passado, que há pouco ainda existia.


Então surge o momente épico em que todo mundo espera nos filmes sobre o Império Romano. Entre os soldados sujos das cinzas, surge o capitão; também sujo, também com medo e diz:


‘Soldados, está na hora de seguir em frente. O medo e a dor que vocês sentem eu também sinto. Sendo assim, vocês não estão sozinhos. Concentremos-nos no que há por vir. Não se esqueçam do passado, o passado te transformou naquilo que você é agora. Mas também não se esqueça que você escolheu estar aqui. Se tivesse ficado, teria sindo infeliz. Vocês só foram adiminidos nessa compania porque são corajosos e guardam a sabedoria dentro de sí. Isto é o que vocês são, não tem como fugir isto. Numa compania que corresse por terra, vocês não alcançariam seus objetivos de contruir um mundo todo seu, falhariam e morreriam insatisfeitos com os próprios feitos. Se estão aqui, é porque são corajosos e porque levam a saberoria dentro de sí. Então embremenhos nesses bosques e usemos estas armas, as únicas que temos, para conquistar o que é nosso!’


Neste momento, a euforia deve ter tomado conta desses soltados, que mesmo sujo, esfarrapados e com medo, seguiram enfrente, mesmo porque a volta era impossível.


Se não me engano, os documentários do History Channel ensinam que os Romanos nunca dominaram totalmente a Grã-Bretanha. A condição de ilha e a astucia dos Britanicos fez com que essas terra jamais tenha sido totalmente dominada por outros povos. Mas o Romanos deixaram vários rastros em sua cultura, indicando que fizeram sim o seu trabalho. A cidade de Bath, por exemplo, é conhecida pelas suas termas construidas nessa época. Esses ‘spas ‘são lembrança que de os Romanos chegaram, se embrenharam e se misturaram, mas não deixaram de ser o que eram.


Tenho certeza que os sucessos das viagens expancionistas Britanicas, desbravando oceanos, colonizando povos e comercializando, é uma herança dos Romanos que um dia chegaram aquela terra chuvosa e cinzenta usaram só a cara e a coragem para conquistar o que para muitos era impossível.





quarta-feira, 6 de abril de 2011

Já foi passear hoje?

Já experimentou andar na sua cidade, ou no seu bairro, como se esta fosse a sua primeira visita a este lugar? Experimentou olhar a sua cidade sob o olhar de um turista? Tente fazer isso da próxima vez que tiver que dar uma passadinha no banco, quando estiver a caminho do trabalho ou do supermercado ou quando for buscar as crianças na escola. Observe as ruas, as casas, o movimento dos carros, as pessoas na calçada, a fachada das lojas, as folhas das árvores no chão ou até uma folha de papel jogada no chão. Em tudo há uma história, em tudo há uma razão de ser. Tudo se encaixa no contexto que se encontra.



Hoje fiz isso, visitei cidade de Utrecht, onde trabalhei durante 4 anos. Andei sem uma rota certa, fui visitando alguns cantos da cidade sem pretensão nenhuma. Só aproveitei a maravilhosa tarde de primavera para me levar para passear. Vi tanta coisa que já havia visto antes, mas hoje estava vendo estas coisas pela primeira vez.



Antes do passeio, fui almoçar com velhos amigos. Foi um prazer enorme revê-los depois de um certo tempo. Apesar de estas pessoas serem minhas amigas e de eu ter trabalhado com elas durante muito tempo, ainda me surpreendo e me sinto honrada quando todo mundo se arranja só para me ver. Na rotina agitada de todo o dia, essas pessoas reservam 1 hora do seu dia para mim. Nessas horas penso: Em tudo há uma razão de ser mesmo! Como é bom ter amigos! Há 2 anos atrás andava cabisbaixa pelo corredores, agora ando de cabeça em pé e grata, muito grata por ter trabalhado com essas pessoas e mais grata ainda poder ser amiga delas. Será que de alguma forma eu retribuo tamanha alegria? Será que sou uma boa amiga? Será que eu também os faço feliz?



Mas o que mais me emociona é saber que não guardo ressentimentos. Voltar ao lugar onde você se debateu e desabou, pode vir trazer mágoas e rancor a tona. Desta vez não foi assim, me senti renovada. Era como se uma outra pessoa tivesse passado os maus momentos por mim. É como se eu estivesse só fazendo turismo, observando tudo de longe, só fotografando... Não tem jeito, acho que vim a esse mundo a passeio mesmo!



Acho que assim como a natureza, estou na Primavera da minha vida. Tudo está se renovando e ganhando nova forma. O frio, o vento, a chuva, a neve e as folhas que caíram nesse inverno rigoroso, fazem parte do processo. Estes fenômenos também têm uma razão de ser, também tem a sua utilidade e o seu papel. O vento e o frio mataram as ervas daninhas e quebraram galhos podres e ressecados A neve e a chuva infiltraram na terra e agora estão servindo como fonte de vida para as novas árvores, gramas, e flores que estão desabrochando. Até a folhas mortas e seca, essa imagem triste que se repete todos os anos no outono. Estas associo simbolicamente as perdas, que assim como as folhas mortas pelo chão, também tem uma serventia no processo inesgotável de renovação; as folhas e as perdas servem como alimento, para as vegetações que está só brotando agora sob esse sol ameno de abril. Se vai brotar uma rosa ou uma erva daninha, não sei. Só sei que a natureza é perfeita e em tudo há uma razão de ser. Se for rosa ou erva daninha será bem-vinda, pois ambas terão um papel nessa história, na minha história.