terça-feira, 12 de abril de 2011

Queimando barcos

Uma das maiores dificuldades na hora de aprender uma língua estrangeira é usar as expressões idiomáticas corretamente. Essas expressões, ao serem traduzidas literalmente, não fazem o menor sentido. Como não crescemos usando-as, temos que usar um artifício para entende-las: entender as origens desta expressão.


Os holandeses são mestres em usar expressões. É algo muito importante na língua deles. Quase todas elas têm um fundo histórico. Existe até um site explicando as raízes de cada uma.


Com a frase “Quero manteiga junto com o peixe” eles te informam que o pagamento tem que ser feito avista. Na época do escambo, quem quisesse uma mercadoria (peixe) deveria oferecer outra no ato (manteiga). Naquela época ainda não existia o famoso pré-datado ou a velha cadernetinha.


Ao mandar “colocar água no vinho” os holandeses não estão sugerindo que o dono do restaurante sacaneie os seus clientes, mas estão dizendo que em situações como esta em que você se encontra, o melhor é ponderar e ceder um pouco.


Mas a minha expressão favorita nesta língua complicadíssima é “queime o barco atrás de você”. Com essa expressão piromaníaca os holandeses te aconselham a olhar para a frente e deixar o passado para atrás. O mais fascinante desta frase é a sua origem. Diz a lenda que quando os Romanos invadiram o Reino Unido, ao chegar na praia tiveram que queimar os próprios barcos, impedindo assim qualquer possibilidade de arrependimento. Obrigando-os a seguir em frente.


Adoro um draminha, então adotei essa frase como a minha expressão idiomática favorita.


Às vezes fico pensando nesse episódio da história e tento me colocar no lugar dos soldados Romanos enviados para essa missão.


Ao atravessar o Canal da Mancha, em seus barcos de madeira, esses soldados detem ter percebido que essa missão era muito difícil e que exigiria uma estratégia diferente da usada para dominar os países da Europa Continental. O Reino Unido é uma ilha, e toda ilha é uma fortaleza natural. Os indivíduos que pretendem invadi-la, devem levar tudo consigo: comida, água, armas, munição, remédio, conhecimento e coragem. Esses recursos muito dificilmente poderiam ser levados a eles. O mar é um obstáculo natural é imutável. Os recursos se acabando, estava acabado.


Na minha imaginação, os soldados se reuniram na proa do barco, a luz das estrelas e decidiram em unanimidade que deveriam queimar todos os barcos assim que chegassem à costa da Inglaterra. Decidiram que para vencer, tudo o que poderiam levar era o que pederiam carregar: a coragem e a sabedoria que alcançaram até então.


E foi assim, morrendo de medo, que os Romanos chegaram a praia, pegaram as tochas e tacaram fogo nos próprios barcos. O medo e a excitação devem ter tomado naquela hora: o medo de se arrependerem e a excitação de construírem uma vida só deles. Uma vida baseada em sabedoria, princípios e coragem, muita coragem!


No final da tarde, com o sol já na linha do horizonte, este homens devem ter se desesperado. Entre a fumaça e a neblina tão tipica da Inglaterra, via-se homens sujos e esfarrapados, remexendo nas cinzas ainda quentes. Algúns devem ter se atirado ao mar, no desespero de voltar ao passado, que há pouco ainda existia.


Então surge o momente épico em que todo mundo espera nos filmes sobre o Império Romano. Entre os soldados sujos das cinzas, surge o capitão; também sujo, também com medo e diz:


‘Soldados, está na hora de seguir em frente. O medo e a dor que vocês sentem eu também sinto. Sendo assim, vocês não estão sozinhos. Concentremos-nos no que há por vir. Não se esqueçam do passado, o passado te transformou naquilo que você é agora. Mas também não se esqueça que você escolheu estar aqui. Se tivesse ficado, teria sindo infeliz. Vocês só foram adiminidos nessa compania porque são corajosos e guardam a sabedoria dentro de sí. Isto é o que vocês são, não tem como fugir isto. Numa compania que corresse por terra, vocês não alcançariam seus objetivos de contruir um mundo todo seu, falhariam e morreriam insatisfeitos com os próprios feitos. Se estão aqui, é porque são corajosos e porque levam a saberoria dentro de sí. Então embremenhos nesses bosques e usemos estas armas, as únicas que temos, para conquistar o que é nosso!’


Neste momento, a euforia deve ter tomado conta desses soltados, que mesmo sujo, esfarrapados e com medo, seguiram enfrente, mesmo porque a volta era impossível.


Se não me engano, os documentários do History Channel ensinam que os Romanos nunca dominaram totalmente a Grã-Bretanha. A condição de ilha e a astucia dos Britanicos fez com que essas terra jamais tenha sido totalmente dominada por outros povos. Mas o Romanos deixaram vários rastros em sua cultura, indicando que fizeram sim o seu trabalho. A cidade de Bath, por exemplo, é conhecida pelas suas termas construidas nessa época. Esses ‘spas ‘são lembrança que de os Romanos chegaram, se embrenharam e se misturaram, mas não deixaram de ser o que eram.


Tenho certeza que os sucessos das viagens expancionistas Britanicas, desbravando oceanos, colonizando povos e comercializando, é uma herança dos Romanos que um dia chegaram aquela terra chuvosa e cinzenta usaram só a cara e a coragem para conquistar o que para muitos era impossível.





Um comentário:

  1. muito legal o texto!! parabéns!!! mas realmente é preciso esquecer o passado e seguir em frente!

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