segunda-feira, 25 de julho de 2011

Desculpem qualquer coisa!

Talvez seja loucura falar do assunto perdão após um final de semana tão bizarro como este que passou no qual quase 68 pessoas inocentes foram friamente assassinadas por um maluco, um homem mal, que acha que seu ponto de vista está acima do bem mais valioso que temos, que é o direito a vida.
Talvez seja exatamente por isso que o assunto perdão esteja latejando na minha cabeça, criando vida própria me obrigando a falar sobre ele. Talvez, talvez…
Hoje, no trem para o trabalho, me sentei ao lado de um garoto com problemas com mentais visíveis O seu jeito de ser, falar, olhar e se mexer entregava a sua deficiência Ele falava sem para com um outro passageiro do trem sobre assuntos confusos sem nenhuma conexão um com o outro. Coisas que provavelmente estavam latejando na cabeça dele. De repente, ao olha pela janela e ver um navio de
cruzeiro lindo, daqueles com 20 andares, ancorado no porto de Amsterdam,ele disse:


‘Que navio bonito, não acha?’
O outro passageiro, numa mistura de dó e educação respondeu que o navio realmente era muito bonito, todo branco de grande.
Sem pensar duas vezes, quase que automaticamente o garoto respondeu:
‘O mundo está cheio de coisas bonitas, para todos os lados em olhamos tem coisas bonitas, mas temos que saber aprecia-las’.
Assim, do nada, no trem indo ao trabalho, um garoto com problemas mentais visíveis resolveu falar como o Lalai Lama falaria!
Mas, com voltar a enxergar as coisas lindas do mundo, quando algo tão horrível e inexplicável acontece?
Também é inexplicável que uma mulher com uma voz maravilhosa de um talento gigantesco não consiga sobreviver os próprios problemas. Um talento daquele não foi o suficiente para que ela visse a luz no final do túnel? Para que ela lutasse contra esse ciclo vicioso? Me sinto mal, por isso bebo. Bebo por isso me sinto mal? Pelo visto, os problemas dessa pessoa eram maiores, muito maiores, do que o seu talento…
(Sim, estou falando de Amy Winehouse!)


Será que o perdão a tiraria desse redemoinho?



Perdoando a pessoa que provavelmente a fez mal, talvez sobraria mais espaço para as coisas boas da vida, talvez sobrassemais espaço para ela apreciar e acreditar em seu proprio talento.



Será que o perdão a tiraria desse redemoinho?



Perdoando a pessoa que provavelmente a fez mal, talvez sobraria mais espaço para as coisas boas da vida, talvez sobrasse mais tempo para apreciar os navios aportados nesses portos do mundo.



Quando agente perdoa, agente não liberta o outro do mal que fez, agente se liberta. Quando agente perdoa, agente se abre para um nova perspectiva, para novas experiencias, para novas possibilidades. Agente se conecta. Agente não se sente tão só.


Mas perdoar o outro é fácil perto da maratona de nos perdoarmos. Perdoar-nos por termos errado, por termos magoado alguém, por não sermos perfeitos, bonitos, inteligentes ou bem-sucedidos o suficiente para esse mundo. O processo do auto perdão é o mesmo processo de se perdoar alguém: Agente tem nos ver sob uma nova perspectiva, embarcar em novas experiencias e possibilidades. Isso só é possível conectando-se com agente mesmo. Nos respeitando e principalmente nos amando e nos aceitamos como somos: imperfeitos.



Como perdoar a vida por não ser perfeita e bonita como gostaríamos que fosse? Esse perdão talvez seja o mais difícil de todos. Talvez agente tenha de nascer com uns ‘parafusos soltos na cabeça’ para enxergar as coisas lindas da vida. Um navio branco, ancorado em um porto qualquer…



Será que não existe outro meio? Será que temos que ficar “doidinhos”, “tantans”, ruim do juízo para atingirmos esse estado de satisfação? Não sei… só sei que nesse final de semana escuro, não consigo perdoar o lado mais cruel desta vida. Mas amanhã será um outro dia, amanha vou olhar pela janela do trem, a procura do navio branco na esperança de que ela ainda estava lá. E se ele ainda estiver, espero poder apreciar de peito aberto, como aquele garoto.

terça-feira, 12 de julho de 2011

É cedo ou tarde demais pra dizer adeus?

Hoje, ao atravessar a rua que dá na Museumplein (Praça do Museu) em Amsterdam fui covardemente golpeada por uma corrente de vento gelada, que sem pedir licença e sem pedir desculpas, entrou na minha roupa. Sem nenhum traço de misericórdia, arrombou o meu peito e em questão de segundos espalhou um sentimento estranho e galado, um sentimento de cor cinza. Este sentimento transformou-se em pensamento.




Então pensei: ‘Até quando agüento isso?’



Em pleno verão, um dia lindo de sol, no mês que segundo as estatísticas, é o mês mais quente do ano. Em pleno verão, sou assombrada pelo frio!
Quem nesse mundo tropical ai do Brasil, em pleno janeiro, sai para dar uma voltinha na hora do almoço e pensa: Nossa, deveria ter trazido o meu xale e o casaco de couro. Quem, me diga? Quem? Ninguém!



Olhei para o gramado da Museumplein. Tentei puxar energia e pensamento positivo dos prédios lindos a minha volta: do Rijksmuseum, o Van Gogh Museum o Concert Gebouw, enfim, os museus de arte famosos da Holanda, onde van Gogh, Rembrant, Vermeer, Modriaan e outros mestres holandeses se encontram pelos corredores. Mas não deu. Não consegui. A varinha mágica quebrou.
Na minha cabeça a trilha sonora era a música ‘Pra dizer adeus’ do Titãs:





Às vezes fico assim pensando
Essa distância é tão ruim
Porque você não vem prá mim?
Eu já fiquei tão mal sozinho
Eu já tentei, eu quis chamar
Não dá prá imaginar quando
É cedo ou tarde demais?
Prá dizer adeus
Prá dizer jamais?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

I AMsterdam

Apesar do dia corrido e agitado, arrumei trinta minutos para dar uma volta pelo coração de Amsterdam esta tarde. Da Damplein (Praça Dam) onde trabalho, virei a esquerda, em direção da Kalverstraat, onde todas as lojas do mundo parecem ter uma sede. Evitei todas elas (inclusive a nova coleção de bolsas da Zara!). Dobrei a esquerda novamente, para evitar a multidão de turistas que ainda insistem em dobrar a direita, e visitar a aerea mais feia e suja da cidade: de Wallen, ou o bairro da luz vermelha. Foi atravez de uma das centenas de becos da cidade que cheguei aos canais mais famosos e elegantes da Holanda; o Singel, Keizergracht e Princegracht. Nessas ruas, (que são cortadas ao longo por canais, por isso o no nome) estão situadas sedes de bancos, embaixadas, consulados e a casa do prefeito de Amsterdam. Nestes canais respirei o ar fresco que paira por Amsterdam no final da primavera.

Este lado da Capital é tão tranquilo e original! Ai se os turistas soubessem... nunca mais colocariam os pé no De Wallen também conhecido como o Red Light District. Só do lado direito da cidade avista-se os verdadeiros Amsterdammers, ou melhor, os moradores de Amsterdam. Entre lojas conhecidas, vê-se loja de todos os tipos e gostos. Uma vez vi uma loja que vendia armações de óculos usadas!

No meio do passeio escuto o sino da igreja Westerkerk tocando, misturado com barulho das sinetas do bonde (avisando pedestres e ciclistas para sairem do caminho!) e misturado com som das centenas de bicicletas passando para lá e para cá. Esta é a verdadeira música de Amsterdam. Todos os dias a mesma música mas todos os dias com notas diferentes.

Apertei o passo para direita, em direção da famosa Westerkerk. Famosa, pois no livro O Diario de Anne Frank, a holandesa mais famosa do mundo conta que escutava do som desta igreja da casa no Princegracht, onde ela se escondeu com a famíla e outros amigos judeus no periodo de 1942 a 1945, antes de ser presa e deportada para Auschwitz. Nesta campo de concentração ela morreu aos 15 anos de idade.

Da Westerkerk são mais 5 minutinhos até o meu trabalho.

Respiro fundo mais uma vez o ar fresco de Amstedam. Olho para as pessoas passando ao meu lado. Avisto alguns turista, tirando fotos, andando e vagar e aprecisando a cidade que para mim, por muitos anos, foi um sonho de adolescente. Aos 15 anos de idade, ao ler O Diário de Anne Frank (um livro que foi esquecido por um desconhecido em minha casa e que por algum motivo começei a ler) falei para mim mesma:” Um dia, vou conhecer Amsterdam, pois de alguma forma conheço esta cidade.“
E aqui estou eu, todos o dias, pegando o trem bem cedinho em direção ao trabalho, mas ao invez disso, pego o trem em direção para meu sonho.... todos os dias.

I AMsterdam !

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Agradecida

Estou aqui para agradecer as oportunidades que me aparecem pelo caminho. Estou feliz não só por as oportunidades aparecerem, mas também por vê-las, aproveitá-las e reconhecê-las nos momentos em que mais delas preciso.



Hoje de manhã sai da minha casa cabisbaixa, com aquele vazio no peito, com aquela vozinha a minha volta me perguntando: ‘É isso? É só isso, mesmo? Quando as coisas vão finalmente começar a mudar para melhor?’ Dormi e acordei com o sentimento de solidão no peito. Dormi sozinha e acordei solitária.



No banheiro, enquanto colocava a maquiagem, decidi que hoje me renderia aos meus sentimentos tristes e melancólicos. Em frente à geladeira, com o pacote de iogurte na mão, combinei comigo mesma que me concentraria no trabalho, afastaria os pensamentos malas (aqueles pensamentos destrutivos só aparecem em momentos sensíveis e que só prestam para te botar ainda mais para baixo) e curtira minha fossa numa boa.



Já no trabalho, com ‘bom dia’ falado, computador ligado, cafezinho sobre a mesma, segui o meu acordo íntimo de ficar na minha, curtir a fossa e afastar os pensamentos malas da cabeça. Entre um documento e outro, pensava no motivo da minha melancolia.



Mas, como diria alguns amigos meus, o ‘universo’ decidiu mudar os meus planos. Mesmo decidia a vestir a camisa do derrotado, usar o chapéu de burro e a calçar o sapato da vítima, mesmo assim, por algum motivo, bem hoje neste momento solene em que decidi curtir minha fossa sossegada, bem hoje um dos chefes no trabalho me soltou essa:



Chefe: ‘Angelica, até quando dura esse projeto em que você está trabalhando?’



Eu: ‘Meu contrato vai até 1 de julho, isso quer disser que até lá tudo tem que estar pronto. Depois disso, não tenho outro projeto.’



Chefe: ‘Ah não, você está disponivel depois disso? Então vou mandar um email para o pessoal de RH pedindo para que você venha nos ajudar com alguns projetos do nosso departamento. Que bom que você está me falando isso agora bem cedinho, pois em todos os departamentos onde você trabalhou todo mundo ficou muito satisfeito, só falam bem de você. Quando você estiver disponível, quero ser o primeiro da fila para te recrutar para o nosso time.’





E assim foram por água abaixo os meus planos de ficar cabisbaixa, quietinha, infeliz e melancólica o dia todo. Passei o dia toda alegre e cheia de energia. Os motivos que me deixaram tristinha um dia antes, passavam pela minha cabeça como uma fresca brisinha, me lembrando que um dia o trabalho também foi motivo para melancolia, mas que as coisas estão se ajeitando. Sendo assim, os motivos que me chatearam ontem um dia também vão se dissipar.



Já a caminho para casa, no trem, conheci um cara muito legal. Um Físico da Cidade do Panamá que veio fazer o seu Phd em Amsterdam e que a cada 3 semana vai a Alemanha visitar a namorada. Entre Amsterdam e Hilversum ele me ensinou algumas coisas sobre células e estruturas moleculares... (quem me conhece sabe que curto esses papos de verdade!)



Chegando em casa, tive uma epifania e após semanas de silêncio me torturando pela minha falta de inspiração, estou aqui escrevendo.



Fui dormi sozinha, acordei solitária e decidi ficar borocoxô o dia todo. Mas vou ser ‘obrigada’ a dormir como uma ótima funcionária, sabendo que provavelmente conseguirei uma prorrogação para o meu contrato de trabalho, impedindo assim o desemprego no verão, quando a Holanda simplesmente para de Julho a Setembro. E de lambuja ainda aprendi alguns conceitos da Biofísica...





Por isso, e por todas as outras oportunidades que ainda não consegui enxergar; Obrigada! Muito Obrigada!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como é bom mudar mas continuar sendo a mesma!

A Primavera nas regiões temperadas do Planeta é a coisa mais louca desse mundo! Eu sei... desculpem, estou escrevendo de novo sobre fenômenos meteorológicos, mas acho que estou aproveitando esse período atípico que me encontro (o desemprego) para apreciar as pequenas coisas da vida, aquelas coisas que estão lá, todos os dias, se repetindo, e por se repetirem tando, agente nem repara mais nelas.


Um grande amigo, também brasileiro empolgado com as estações do ano bem definidas da Europa, descreveu a Primavera assim:



A Primavera parece aquelas cenas de desenho animado onde a bruxa malvada sai de cena e um arco-íris vai passando pelo lugar, vem devagar. Por onde ele passa, todas a folhas, flores e árvores secas e mortas pela bruxa vão se abrindo e colorindo tudo. Os passarinhos voltam a cantar e todos os animaizinhos saem da toca, felizes da vida.



É assim mesmo! Sem exagero nenhum! É assim que agente se sente mesmo, como se tivesse sido libertado, após 6 meses de frio e escuridão.



Só para se ter uma ideia de como o negócio é rápido mesmo, no dia 12 de fevereiro, quando sai de casa embaixo de uma névoa cinzenta, com temperatura de 3C, estava escuro. Nesse dia a sol nasceu as 08:02 e se pôs as 17:48. (Hehehe, na Holanda tudo é registrado e quase tudo se acha na internet! Um dia escrevo sobre essa mania de previsão dos holandeses!). Nessa mesma tabela na internet, vejo que o sol hoje nasceu às 06:45 e vai se por às 20:42. Em um pouco mais de um mês, ganhamos 5 horas a mais de luz!



Com essa mudança dramática é claro que a natureza se comporta diferente; tudo, mas tudo mesmo floresce! Esse fenômeno não se vê apenas em plantas e animais, mas também no bicho homem. É praticamente impossível andar pela rua sem receber um olhar ou até mesmo receber uma cantada! Um dia desses recebi três, umas atras da outra. Um rapaz jovem, bonito e desconhecido, passou de bicicleta e falou com um sorrisão no rosto: “Oi linda!” . Eu te juro que nunca tinha visto este cara antes, e que se chamar de lindo e linda aqui não é o costume. Então o cara estava de xaveco mesmo.



Mas essa euforia toda também tem um efeito estranho em algumas pessoas; a depressão. Sim, acreditem ou não, mas na Europa é comum ter um surto depressivo na Primavera e no Outono. Dizem que para alguma pessoas, essa mudança radical na natureza desperta um mal sentimento, o sentimento de: Tudo muda, menos eu! Para muitos, essa estação do ano vem como um tapa na cara, como se recebessem uma bronca às 06:45 da manhã. Uma voz grita em seus ouvidos: Mais um ano se passou e mais uma vez você não mudou.



Graças a Deus não sou uma dessas pessoas, sou uma das pessoas que se empolga e se alegra com as mudanças. Adoro mudança! Adoro mudar móveis de lugar, arrumar a bolsa e o guarda-roupa, jogar tudo que é velho fora e comprar coisas novas. Adoro, adoro mudar! Mas também sei apreciar essas mudanças rotineiras, essas mudanças que ocorrem todos os dias, meses e ano. Como a estações do ano, que desde que o mundo é mundo, traz mudanças que são sempre as mesmas mudanças.



Como é bom mudar mas continuar sendo a mesma!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Queimando barcos

Uma das maiores dificuldades na hora de aprender uma língua estrangeira é usar as expressões idiomáticas corretamente. Essas expressões, ao serem traduzidas literalmente, não fazem o menor sentido. Como não crescemos usando-as, temos que usar um artifício para entende-las: entender as origens desta expressão.


Os holandeses são mestres em usar expressões. É algo muito importante na língua deles. Quase todas elas têm um fundo histórico. Existe até um site explicando as raízes de cada uma.


Com a frase “Quero manteiga junto com o peixe” eles te informam que o pagamento tem que ser feito avista. Na época do escambo, quem quisesse uma mercadoria (peixe) deveria oferecer outra no ato (manteiga). Naquela época ainda não existia o famoso pré-datado ou a velha cadernetinha.


Ao mandar “colocar água no vinho” os holandeses não estão sugerindo que o dono do restaurante sacaneie os seus clientes, mas estão dizendo que em situações como esta em que você se encontra, o melhor é ponderar e ceder um pouco.


Mas a minha expressão favorita nesta língua complicadíssima é “queime o barco atrás de você”. Com essa expressão piromaníaca os holandeses te aconselham a olhar para a frente e deixar o passado para atrás. O mais fascinante desta frase é a sua origem. Diz a lenda que quando os Romanos invadiram o Reino Unido, ao chegar na praia tiveram que queimar os próprios barcos, impedindo assim qualquer possibilidade de arrependimento. Obrigando-os a seguir em frente.


Adoro um draminha, então adotei essa frase como a minha expressão idiomática favorita.


Às vezes fico pensando nesse episódio da história e tento me colocar no lugar dos soldados Romanos enviados para essa missão.


Ao atravessar o Canal da Mancha, em seus barcos de madeira, esses soldados detem ter percebido que essa missão era muito difícil e que exigiria uma estratégia diferente da usada para dominar os países da Europa Continental. O Reino Unido é uma ilha, e toda ilha é uma fortaleza natural. Os indivíduos que pretendem invadi-la, devem levar tudo consigo: comida, água, armas, munição, remédio, conhecimento e coragem. Esses recursos muito dificilmente poderiam ser levados a eles. O mar é um obstáculo natural é imutável. Os recursos se acabando, estava acabado.


Na minha imaginação, os soldados se reuniram na proa do barco, a luz das estrelas e decidiram em unanimidade que deveriam queimar todos os barcos assim que chegassem à costa da Inglaterra. Decidiram que para vencer, tudo o que poderiam levar era o que pederiam carregar: a coragem e a sabedoria que alcançaram até então.


E foi assim, morrendo de medo, que os Romanos chegaram a praia, pegaram as tochas e tacaram fogo nos próprios barcos. O medo e a excitação devem ter tomado naquela hora: o medo de se arrependerem e a excitação de construírem uma vida só deles. Uma vida baseada em sabedoria, princípios e coragem, muita coragem!


No final da tarde, com o sol já na linha do horizonte, este homens devem ter se desesperado. Entre a fumaça e a neblina tão tipica da Inglaterra, via-se homens sujos e esfarrapados, remexendo nas cinzas ainda quentes. Algúns devem ter se atirado ao mar, no desespero de voltar ao passado, que há pouco ainda existia.


Então surge o momente épico em que todo mundo espera nos filmes sobre o Império Romano. Entre os soldados sujos das cinzas, surge o capitão; também sujo, também com medo e diz:


‘Soldados, está na hora de seguir em frente. O medo e a dor que vocês sentem eu também sinto. Sendo assim, vocês não estão sozinhos. Concentremos-nos no que há por vir. Não se esqueçam do passado, o passado te transformou naquilo que você é agora. Mas também não se esqueça que você escolheu estar aqui. Se tivesse ficado, teria sindo infeliz. Vocês só foram adiminidos nessa compania porque são corajosos e guardam a sabedoria dentro de sí. Isto é o que vocês são, não tem como fugir isto. Numa compania que corresse por terra, vocês não alcançariam seus objetivos de contruir um mundo todo seu, falhariam e morreriam insatisfeitos com os próprios feitos. Se estão aqui, é porque são corajosos e porque levam a saberoria dentro de sí. Então embremenhos nesses bosques e usemos estas armas, as únicas que temos, para conquistar o que é nosso!’


Neste momento, a euforia deve ter tomado conta desses soltados, que mesmo sujo, esfarrapados e com medo, seguiram enfrente, mesmo porque a volta era impossível.


Se não me engano, os documentários do History Channel ensinam que os Romanos nunca dominaram totalmente a Grã-Bretanha. A condição de ilha e a astucia dos Britanicos fez com que essas terra jamais tenha sido totalmente dominada por outros povos. Mas o Romanos deixaram vários rastros em sua cultura, indicando que fizeram sim o seu trabalho. A cidade de Bath, por exemplo, é conhecida pelas suas termas construidas nessa época. Esses ‘spas ‘são lembrança que de os Romanos chegaram, se embrenharam e se misturaram, mas não deixaram de ser o que eram.


Tenho certeza que os sucessos das viagens expancionistas Britanicas, desbravando oceanos, colonizando povos e comercializando, é uma herança dos Romanos que um dia chegaram aquela terra chuvosa e cinzenta usaram só a cara e a coragem para conquistar o que para muitos era impossível.





quarta-feira, 6 de abril de 2011

Já foi passear hoje?

Já experimentou andar na sua cidade, ou no seu bairro, como se esta fosse a sua primeira visita a este lugar? Experimentou olhar a sua cidade sob o olhar de um turista? Tente fazer isso da próxima vez que tiver que dar uma passadinha no banco, quando estiver a caminho do trabalho ou do supermercado ou quando for buscar as crianças na escola. Observe as ruas, as casas, o movimento dos carros, as pessoas na calçada, a fachada das lojas, as folhas das árvores no chão ou até uma folha de papel jogada no chão. Em tudo há uma história, em tudo há uma razão de ser. Tudo se encaixa no contexto que se encontra.



Hoje fiz isso, visitei cidade de Utrecht, onde trabalhei durante 4 anos. Andei sem uma rota certa, fui visitando alguns cantos da cidade sem pretensão nenhuma. Só aproveitei a maravilhosa tarde de primavera para me levar para passear. Vi tanta coisa que já havia visto antes, mas hoje estava vendo estas coisas pela primeira vez.



Antes do passeio, fui almoçar com velhos amigos. Foi um prazer enorme revê-los depois de um certo tempo. Apesar de estas pessoas serem minhas amigas e de eu ter trabalhado com elas durante muito tempo, ainda me surpreendo e me sinto honrada quando todo mundo se arranja só para me ver. Na rotina agitada de todo o dia, essas pessoas reservam 1 hora do seu dia para mim. Nessas horas penso: Em tudo há uma razão de ser mesmo! Como é bom ter amigos! Há 2 anos atrás andava cabisbaixa pelo corredores, agora ando de cabeça em pé e grata, muito grata por ter trabalhado com essas pessoas e mais grata ainda poder ser amiga delas. Será que de alguma forma eu retribuo tamanha alegria? Será que sou uma boa amiga? Será que eu também os faço feliz?



Mas o que mais me emociona é saber que não guardo ressentimentos. Voltar ao lugar onde você se debateu e desabou, pode vir trazer mágoas e rancor a tona. Desta vez não foi assim, me senti renovada. Era como se uma outra pessoa tivesse passado os maus momentos por mim. É como se eu estivesse só fazendo turismo, observando tudo de longe, só fotografando... Não tem jeito, acho que vim a esse mundo a passeio mesmo!



Acho que assim como a natureza, estou na Primavera da minha vida. Tudo está se renovando e ganhando nova forma. O frio, o vento, a chuva, a neve e as folhas que caíram nesse inverno rigoroso, fazem parte do processo. Estes fenômenos também têm uma razão de ser, também tem a sua utilidade e o seu papel. O vento e o frio mataram as ervas daninhas e quebraram galhos podres e ressecados A neve e a chuva infiltraram na terra e agora estão servindo como fonte de vida para as novas árvores, gramas, e flores que estão desabrochando. Até a folhas mortas e seca, essa imagem triste que se repete todos os anos no outono. Estas associo simbolicamente as perdas, que assim como as folhas mortas pelo chão, também tem uma serventia no processo inesgotável de renovação; as folhas e as perdas servem como alimento, para as vegetações que está só brotando agora sob esse sol ameno de abril. Se vai brotar uma rosa ou uma erva daninha, não sei. Só sei que a natureza é perfeita e em tudo há uma razão de ser. Se for rosa ou erva daninha será bem-vinda, pois ambas terão um papel nessa história, na minha história.


segunda-feira, 28 de março de 2011

Sonho : Parte II

Já quis ser de tudo nessa vida. Como toda menininha que se preze, a já quis ser, dona de casa, professora, médica pediatra e veterinária. Quando ganhei uma boneca com roupinha de marinheira, decidi que também gostaria de entrar para a Marinha. (Não sabendo que mulheres não são bem-vindas nas Forças Armadas). Ainda na década de 80, quando os programas de Miss quebravam recordes de audiência, sentir uma vontade louca de ser Miss Brazil (Brazil com Z, é claro!). Ao assistir o filme Indiana Jones, quis ser historiadora. No ano da comemoração dos 20 anos da chegada do homem á Lua, quis ser astronauta.(Desistí logo depois da primeira aula de Física)


Já no ensino médio, parei de pensar como criança, querendo tudo o que vê, e decidi pensar sério sobre este assunto. Fui procurar fundo o que realmente queria. Repensei todas as profissões em que um dia sonhei em praticar. Uma a uma, fui descartando-as. Daí percebi que entre a professora, a astronauta e a marinheira eu queria ser escritora. Isso eu nem saia repetindo por ai, pois já era óbvio. Por essas e por outras, decidi que deveria estudar Jornalismo. Como era uma mocinha emancipada, tinha que pensar no meu próprio sustento, pois na década de 90 ser sustentada pelo marido era coisa fora de moda, brega mesmo. Por isso, escolhi o curso de Publicidade e Propaganda. Bem versátil, poderia ser criativa para ganhar dinheiro ao mesmo tempo.


Resultado? Sou uma bancária desempregada. Passei os últimos anos trabalhando em lugares desejados por todos como a Volkswagen do Brasil e o Rabobank Nederland, que apesar do nome, é o maior banco da Holanda.


Durante esta última aventura, tive até um certo progresso e uma promoção relâmpago, tão relâmpago que não durou muito tempo. Para ser clara, durou 2 anos. Depois de dois anos de muito stress e insatisfação ouvi o meu chefe me dizendo:


‘Você estudou Comunicação não foi? Já pensou em voltar para essa área? Se quiser eu te ajudo, te demitindo...’ Bem, ele não falou exatamente te demitindo, mas foi isso o que escutei e foi isso o que ele realmente fez.


Desde de então estou aqui, procurando algo que não tenho a mínima ideia do que seja. Procuro ‘qualquer coisa’, mas qualquer coisa está difícil de encontrar.


Não me sinto uma coitada ou uma vítima. Me sinto quase uma privilegiada por poder procurar essa tal de ‘qualquer coisa em paz’. Fico até feliz por ter tido aquele papo horrível com o meu chefe, quando pela primeira vez (mas não a última) não consegui segurar o choro. Parecia criança na sala do diretor da escola.


Durante esse processo todo, fiz cursos, li livros e conversei com muita gente.


A todo o momento me perguntavam: ‘O que você gostaria de fazer? Do que você gosta? Quais sãos os seus sonhos? O que te dá prazer na vida? ‘


A minha resposta era: ‘Qualquer coisa. Gosto de tudo. Me adapto a tudo.’


Nunca foi tão difícil achar ‘qualquer coisa’.


Então, não sabendo onde achar essa ‘coisa’, fui a um bar com uma amiga. Jogar conversa fora, contar sobre as minhas férias e ouvir como foram as férias dela. Falamos e tudo isso e mais um pouco. Foi uma noite divertida, ao som de música dançante e regada a vinho tinto.


Chegando em minha casa, ela bateu o olho na minha nova pintura, que dei o estranho nome de “Sonho: Parte II”. (Quem conhece o sonho e viu a pintura sabe do que estou falando). Enquanto eu fazia o cafezinho, ela ficou parada, observando o quadro, quase sem piscar.


‘O que quer dizer esse quadro?’


‘Me diga o que você vê nele, amiga.’


Ela começou a descrever o que via; uma pessoa cortada em dois, um lado feliz, outro triste, um risco no meio, uma mão calando a boa, a cabeça maior de um lado, um lado sem orelha e o fundo bagunçado de um lado e organizado o outro.


Contei o sonho, e que essa ideia tive durante as férias e contei o que cada coisa simbolizava para mim.


‘Por que o funda tá bagunçado aqui? Ele deveria esta organizado aqui e não bagunçado!’


‘Não, desse lado não tem jeito, o fundo é bagunçado mesmo. Desse lado, não é preciso organizar nada.’


Ela ficou quieta, com os olhos arregalados e brilhantes. Pensei que ela fosse chorar.


‘Era sobre isso que estava falando com você lá no bar!’


Neste momento achei a tal ‘qualquer coisa’ que eu procurava. Esse olhar, esse sentimento, e essa discussão gerada por um quadro que EU pintei, isso não tem preço. É disso que gosto, era esse o meu sonho é isso que me dá prazer na vida.


Nesta noite tive a pachorra de discordar de Fernando Pessoa, quando ele diz que “o poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente." Concordo com o meu amigo Miguel, que me disse: “o artista é na verdade um autista (até rimou!), que faz a arte dele, pensando só nos sentimentos dele. Em nenhum momento ele envolve os outros. O artista de sucesso, é o cara tem a sorte de achar alguém pensa e sente como ele.”


Concordo com o meu amigo e filósofo de botequim Miguel. Eu não finjo nada, eu faço qualquer coisa mesmo, mas tive a sorte de achar alguém que se emociona com isso. E isso, meus amigos, isso não tem preço!


Os bônus que eu ganhava do Rabobank nos bons tempos pagaram (e ainda pagam) as minhas contas. Mas a lagriminha nos olhos da minha amiga, pagou tudo!


sábado, 26 de março de 2011

Quando o vinho sobe….

Já vou logo avisando que bebí um pouco... Quando bebo, só faço o que me dá na cabeça, ou melhor, o que me dá no coração.
Fazer o que me dá da cabeça, faço sem beber mesmo. A razão, a lógica é comigo mesma. Mas com uma taça de vinho a mais, vejo as coisas com mais clareza. Quando a bebida domina a cabeça, me libero, deixo rolar, me entrego. Por isso resolví escrever agora, as 3 da manhã, com uma taça de vinho branco na mão e varias de vinho tinto na cabeça. Só quero ver no que vai dar...
Como teria sido a minha vida se tivesse bebido mais? Não digo no sentido de beber, encher a cara, tomar todas, se emborrachar, ficar breaco, de ver tudo duplo, de trançar as pernas. Digo no sentido de me soltar, pensar menos e agir por impulsos, só ouvindo o que quero e o que sinto no momento da ação. Será que teria me policiado tanto? Será que teria sido a filhinha mimada? A intelectual da classe? A certinha? A durona? A difilcil? A nerd? A incompreensível? A incompetente? A fujona? A meiga? A politicamente correta? A dona da verdade? A confiavel? A que faz tudo certinho?
Acho que se tivesse passado a minha vida toda com uma doses a mais na cabeça, acho que teria me comportado como alguém que bebeu mais do que devia: estaria cagando em andando para tudo e para todos.
Não estou aqui promovendo o alcoolismo, mas acho que uma boa dose a embriagues é necessária para manter as nossas vidas em balanço. É preciso errar, mentir, trair, roubar, xingar para se entender com a vida funciona. Quem nunca errou, não sabe o que é estar certo. Quem nunca mentiu, não sabe o que é a verdade. Quem nunca traiu, não sabe como é ser fiel. Quem nunca roubou, não sabe o que é se esfolar para conseguir o que quer. E quem nunca xingou não sabe como é bom mandar todo mundo para aquele lugar!
O moral dessa história? O moral não existe. Quando se bebeu um pouco mais do que o limite permitido, sente-se mais, se diz a verdade e se age por impulso. Só amanhã saberei as consequências dessa bebedeira. Amanhã me arrependo do que fiz hoje, mas hoje quero só aproveitar o zun-zun-zun que esse vinho (barato) está causando na minha cabeça. Amanhã tomo uma aspirina, e tudo bem... Amanhã fica para amanhã. Hoje sou eu, minha taça de vinho branco (barato) e minha bebedeira....

Epigrama n° 7

A tua raça de aventura
Quis ter a terra, o céu, o mar.
Na minha, há uma delicia obscura
Em não querer, em não ganhar...

A tua raça quer partir, guerrear, sofrer,
Vencer, voltar.
A minha raça não quer ir nem vir.
A minha raça quer passar.

(Cecília Meirelhes)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Processo criativo tela: “So much Trouble in the world”


Esta continua sendo a minha tela favorita. O resultado da tela ficou melhor do que eu imaginava.

A inspiração para as formas geométricas e os motivos surgiram no Museu de Arte Aborígena Contemporânea de Utrecht. Além dos trabalhos aborígenes, havia uma exposição do artista plastico holandês Karel Appel.

As estampas tribais dos artistas aborígenes e as cores primárias das telas de Karel Appel chamaram a minha atenção.

A epifania mesmo, surgiu quando eu saí do museu e fui caminhando no centro de Utrecht até a estação de trêm. Passando por uma loja de artigos de decoração, ví umas almofadas coloridas, colocadas lado a lado em uma estante branca. Eureka!

Escolhí cores alegres e liguei o som do Bob Marley.

A tela ficou alegre, colorida, viva e fresca, como o som do Bob Marley!

Ao som da música “So much trouble in the world” eu dei os toques finais na tela. Por isso batizei a pintura com esse nome.

A letra da música não tem nenhuma influência na pintura. Fui o ritmo gostoso que me embalou.

Processo criativo tela: Buiten de kaders lopen (Andar fora da moldura)

A inspiração para a tela veio durante uma aula de yoga. Veio uma imagem em minha cabeça, assim do nada. A imagem não era nítida, apenas uma mistura de cores e formas.

As cores eram: vermelho, cinza e braco. O fundo devia ser vermelho sangue com borrões em branco e cinza. A forma viria ao centro; um esboço de um corpo humano (feminino).

A tela em sí, ficou bem diferente do que eu imaginei, haja visto que não tenho experiência com o desenho (imagine desenhar um corpo humano!). O fundo ficou ótimo, exatamente como eu imaginava, mas o humano.... pareceia desenho de criança. Detestei o quandro. Na tentativa de salvá-lo, estraguei-o ainda mais, colocando mais borrões ao fundo.

O quadro ficou nervoso, uma zona! Deixei o quadro de lado um dia.

Decidí não desistir. Como o quadro já estava meio louco mesmo, pintei pernas e braços enormes, desproporcionais, saindo do quadro.

Era isto! O humano deveria sair da moldura!

Precisei de vários dias para gostar da tela.

Que loucura, bem essa tela costuma receber elogios!


sexta-feira, 18 de março de 2011

Mesa para um, por favor

Ontem decobrí uma nova casa de café aqui em Hilversum. Como muitos de vocês já sabem, tenho paixão por estas casa. Ai no Brasil sempre dou um pulinho no Café do Ponto ou no Frans Café. Tem um ano que me presenteio todos os dias com um cappuccino ou um latte macchiatto fora de casa.

Percebí algumas diferenças entre as casas de cafés dos dois paises, além do preço, é claro.

No Brasil há últimamente uma preocupação maior com a decoração, mas neste quesito a Holanda ainda ganha. Esta nova casa de café é divina! Tem um clima lounge e dá para perceber que a decoração ficou por conta de um decorador profissional. Mais do que o café, eles vendem o ambiente. A casa de café é a sala de estar que você sempre quis ter.

No país do café, a qualidade e a quantidade é que atrai o público. As grandes redes já possuiem um formato pronto, que dá a casa uma cara de barzinho. O café tem que ter cara de café mesmo, um lugar onde as pessoas se encontram para jogar coversa fora, olhar o movimento e, é claro, tomar um cafézinho.

Durantes as minhas visitinhas ao Café do Ponto, me sentia quase um ET, pois eu era a unica pessoa não acompanhada do local. As maioria das pessoas, principalmente as mulheres, estão acompanhadas de amigas, filhos, marido, mãe, sogro. Seja lá o que for, mas nunca sozinhas. As vezes me pergunto se essas pessoas tão bem acompanhadas no fundo, bem lá no fundo, também se sentem sozinhas. Por mais que agente tente dividir todos os momentos com outras pessoas, ainda continuamos sendo indivíduos, diferentes uns dos outros, ímpares.

Na Holanda ser solteiro ou sozinho não é tabu. Já existe um mercado voltado trintões e quarentões solteiros, ou como ele mesmo dizem: os Happy Singles.Eu sou uma Happy Single. Neste café, por exemplo, existe uma mesa grande, como uma mesa da sala de jantar, com vária cadeiras. A mesa é decorada com flores, jornais e revistas. E sempre há uma luminária com design moderno iluminando a nossa leitura. Esta mesa fica geralmente ao centro da loja. Por causa das revista, sento-me sempre nela.

Como sempre, pedí um cappuccino e fui direto para a mesona com as revistas. Após uns 5 minutos chegou um homem bonitão, com aproximadamente 40 anos. Ele também escolheu a mesona. Perguntou educadamente se eu estava lendo o jornal a minha frente. Eu disse que não, que ele poderia ler o jornal a vontade. Ele pegou o jornal e certificou-se de sentar-se na minha frente, mas há umas 3 cadeiras de mim, afinal ele é holandês e não quer invadir o meu espaço (ou solidão?)E ficamos lá, cada um com a sua leitura, cada um no seu mundo, juntos sozinhos. Quando ele não me olhava, eu dava uma espiadinha, quando eu não olhava ele dava uma espiadinha. E assim ficamos...

O que é melhor? Se rodiar de gente para não ver a própria solidão? Ou adimitir a solidão, sentar na mesa dos solteirões e juntos negarem o óbvio?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ir embora

Todo ano é a mesma coisa; depois de uma temporada nos trópicos com a familia e amigos, digo adeus bravamente, sem deixar cair uma lágrima e sem olhar para trás. Na sala de embarque, fico sozinha, olhando para o céu, observando as pessoas. Neste momento digo adeus ao Pais. Quando o avião começa a correr na pista... hmm nesse momento caio na real. Neste momento não só sei como sinto que estou indo embora. Quando o trem de pouso deixa de tocar o chão, já não me seguro mais... A única coisa que me consola é saber que tem mais trinta pessoas na mesma situação no avião: todos com nariz e olhos vermelhos, tentando disfarçar a emoção. Alias há um código entre nós de nunca nos entre olharmos e nunca perguntarmos; você está bem? Pois a reposta seria: O que você acha? Sim, nós expatriados somos mal humorados!

As doze horas seguintes são fisicamente pesadas, mas são necessárias também. É ótimo saber que não estou nem aqui nem lá. Estou literalmente no ar, entre o Brasil e a Holanda. Entre o passado e o presente. Mas e o futuro, onde fica?

Na viagem Brasil – qualquer capital da europa por onde se paga menos pela passagem, tento relembrar os bons momentos das férias. Curto tudo de novo, enquanto luto com o banco desconfortável do avião. A luta entre o antes e o agora é constante; penso nos dias de sol, no arroz com feijão, nos amigos e na família, enquanto os meus pés incham, me avisando que estou aqui, agora, num avião de volta para casa, não mais no quintal da outra casa, que na verdade não é mais minha.

Na chegada na cidade qualquer onde se paga menos pela passagem (este ano foi Roma), entro em choque. Ainda bem que não estou acompanhada, mas nos anos em que estava, na espera para o avião para Amsterdam eu não emitia um só som. Como pode? Em tão pouca horas chegar em um outro mundo?

No avião(zinho) devolta para a Holanda, nem sinto ainda pior. O cansaço físico e o emocional me deixam mal humorada e meio paranóica. A minha cabeça não para de pensar e não para de me perguntar: Meu Deus, o que faz ai? Você é mesmo feliz aqui? O que te atrai e o que te mantem aqui? Deveria voltar? Ou você só pensa isso porque teve umas férias maravilhosas?

Neste momento, olhei pela janelinha e ví os Alpes todos cobertos de neve, uma visão simplesmente divina! Um sentimento de gratidão tomou conta de mim, só por ter tido a oportunidade de ver uma imagem tão linda. Neste comento, como abracadabra um pensamento me veio a cabeça, como uma voz, me dizendo: “Angélica, você está cansada. Vá para a sua casa, durma, descançe. Deixe para pensar ou tomar decisões quando estiver fisicamente e emocionalmente descançada. Neste momento, não vai adiantar nada ficar se martirizando. Durma primeiro.”Acordei de um sono profundo já em Amsterdam, num dia ameno e cinzento.

Agora estou aqui, fisicamente descançada, emocionamente nem tanto. Mas todo ano levo uma semana para voltar emocionamente aos eixos.

Este ano vou dar ouvido a essa vozinha (a minha mesma) e vou pensar com carinho o que me prende a Holanda e o que me afasta dela. Minhas observações, conclusões, e noias (pff muitas nóias) vou expressar aqui, neste blog. Espero que este blog sirva como um momento de reflexão para mim e de diversão para vocês.

Um grande abraço da Angel