quarta-feira, 16 de março de 2011

Ir embora

Todo ano é a mesma coisa; depois de uma temporada nos trópicos com a familia e amigos, digo adeus bravamente, sem deixar cair uma lágrima e sem olhar para trás. Na sala de embarque, fico sozinha, olhando para o céu, observando as pessoas. Neste momento digo adeus ao Pais. Quando o avião começa a correr na pista... hmm nesse momento caio na real. Neste momento não só sei como sinto que estou indo embora. Quando o trem de pouso deixa de tocar o chão, já não me seguro mais... A única coisa que me consola é saber que tem mais trinta pessoas na mesma situação no avião: todos com nariz e olhos vermelhos, tentando disfarçar a emoção. Alias há um código entre nós de nunca nos entre olharmos e nunca perguntarmos; você está bem? Pois a reposta seria: O que você acha? Sim, nós expatriados somos mal humorados!

As doze horas seguintes são fisicamente pesadas, mas são necessárias também. É ótimo saber que não estou nem aqui nem lá. Estou literalmente no ar, entre o Brasil e a Holanda. Entre o passado e o presente. Mas e o futuro, onde fica?

Na viagem Brasil – qualquer capital da europa por onde se paga menos pela passagem, tento relembrar os bons momentos das férias. Curto tudo de novo, enquanto luto com o banco desconfortável do avião. A luta entre o antes e o agora é constante; penso nos dias de sol, no arroz com feijão, nos amigos e na família, enquanto os meus pés incham, me avisando que estou aqui, agora, num avião de volta para casa, não mais no quintal da outra casa, que na verdade não é mais minha.

Na chegada na cidade qualquer onde se paga menos pela passagem (este ano foi Roma), entro em choque. Ainda bem que não estou acompanhada, mas nos anos em que estava, na espera para o avião para Amsterdam eu não emitia um só som. Como pode? Em tão pouca horas chegar em um outro mundo?

No avião(zinho) devolta para a Holanda, nem sinto ainda pior. O cansaço físico e o emocional me deixam mal humorada e meio paranóica. A minha cabeça não para de pensar e não para de me perguntar: Meu Deus, o que faz ai? Você é mesmo feliz aqui? O que te atrai e o que te mantem aqui? Deveria voltar? Ou você só pensa isso porque teve umas férias maravilhosas?

Neste momento, olhei pela janelinha e ví os Alpes todos cobertos de neve, uma visão simplesmente divina! Um sentimento de gratidão tomou conta de mim, só por ter tido a oportunidade de ver uma imagem tão linda. Neste comento, como abracadabra um pensamento me veio a cabeça, como uma voz, me dizendo: “Angélica, você está cansada. Vá para a sua casa, durma, descançe. Deixe para pensar ou tomar decisões quando estiver fisicamente e emocionalmente descançada. Neste momento, não vai adiantar nada ficar se martirizando. Durma primeiro.”Acordei de um sono profundo já em Amsterdam, num dia ameno e cinzento.

Agora estou aqui, fisicamente descançada, emocionamente nem tanto. Mas todo ano levo uma semana para voltar emocionamente aos eixos.

Este ano vou dar ouvido a essa vozinha (a minha mesma) e vou pensar com carinho o que me prende a Holanda e o que me afasta dela. Minhas observações, conclusões, e noias (pff muitas nóias) vou expressar aqui, neste blog. Espero que este blog sirva como um momento de reflexão para mim e de diversão para vocês.

Um grande abraço da Angel

2 comentários:

  1. voce escreve muito bem sim .....mas as duvidas são eternas .....estar só é diferente de sentir-se só .....mss a vida é assim ..........podemos pedir ajuda ....ter um ombro prá chorar ...ter um abraço prá rir ...mas tem horas que só a gente tem que saber.......
    beijos.....
    vanessinha..........

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  2. Angel...perfeita descricao, acho todos nós que vivemos essa mistura de sensacoes (na hora da partida) nos identificamos com seu desbafo!

    beijao...
    e estamos te esperando em Hannover..
    Grasi

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